sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

por que queimas.


Internet 



"Um sentimento sempre queimando, 
temperatura sempre subindo 
e um grau absurdo de uma situação 
abocanhada entre os dentes. 
Esse amor desgraçado 
bagunçou meu coração. 
Acelerou todas as minhas emoções. 
Estipulou todas as sensações 
e nomeou a minha razão pra amar". 



Jota Cê



Sinto o calor escorrer pela pele em um momento onde jamais deveria estar.
Existem tantos suores que escorrem e nos levam ao delírio..
O rasgar da pele que não cessa.  Sensação inconsciente que covardemente me persegue, se hospeda em meu corpo e me atormenta sem proveito.
Busco um refúgio onde o pensamento me abandone, onde a carne esfrie e o peito se acalme.
Esquecida de que já fui, e que estive qual sombra em caminho oposto, me desentendo com meu lado tão alienado.
Uma reviravolta, me faz cair em tormenta e sentir o ar ao meu redor, quente, a me deixar em um sopro de sonho de onde nunca acordo.
É tudo tão absurdamente intenso que os poros vertem paixão e sedução..

E eu grito.
Um grito abafado, engasgado, de dor sem alento.
Uma lágrima sangra a ferida da luta perdida, chora a covardia da paixão sobrevivente.
Como querer um suave torpor, se queima por dentro a marca eterna de ilusões caladas, de palavras leves.

Pulsa enfim em mim, a veia que leva o corpo adiante, que vive e dá vida, que eleva o pensamento e o querer. E o tempo que teima em me paralisar, secar a alma, se soltou de mim. E eu, o deixei ir sem remorsos, apenas esperando que ele retorne para aquecer o corpo e fazer queimar o desejo esquecido..

Ing

Este post é parte integrante do projeto "Caderno de Notas" - segunda edição, sob o tema "a temperatura do corpo" do qual fazem parte as autoras Ana Claudia Marques , Luciana Nepomuceno , Lunna Guedes , Tatiana Kielberman , Thelma RamalhoMariana Gouveia


sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

outras madrugadas.


Internet





"Pedacinhos de noite, polvilhados com as luzes do dia.
É a madrugada confusa.
Para alguns, tarde.
Para outros, muito cedo.
Opostos de vida".
Mel Fronkcoviak.


O que são madrugadas senão o quase despertar, o quase amanhecer..
Na noite, não sinto a mão que percorre o corpo, não sinto a pele que arrepia.
Não vejo a luz e a sombra, não vislumbro sequer o clarão do trovão.
Na escuridão desta noite somente pressinto..
Na escuridão desta noite, somente  o gemido..
O lençol frio, o vento que invade a cama sem cerimônia pela porta aberta.
Invade o corpo e a alma.
No peso do sono, que não vem, relevo o que nada me é dado, o que do nada me é tomado.

O que são as madrugadas senão o descansar do pensar, do sentir , do leve torpor da morte que vive em nós..
Na janela aberta o frescor da quase manhã me abraça, o silêncio da ausência me encanta.
Percorro o olhar desperto e atento ao redor, e vejo pontos de vida já cedo, já iluminados pela manhã que se aproxima..
O lençol frio, vai aquecer-se ao sol, a sombra dissipar-se-á rapidamente sem trovões, e a escuridão da noite vai levar com ela o gemido..


Quando a manhã chegar, a mão acostumou-se à pele, o sono passou ao largo..
O silêncio já ensurdece o pensamento, que gira e retoma o caminho da ausência.
E assim muitas manhãs, muitas madrugadas, se perpetuarão em tempo e emoções,que somente o sonho tem a audácia de desvendar...

Que venham...

Ing




Este post é parte integrante do projeto "Caderno de Notas" - Segunda Edição,sob o tema "quero outra manhã depois desta madrugada"... do qual participam as autoras Ana Claudia Marques,  Luciana Nepomuceno,  Lunna GuedesTatiana KielbermannThelma Ramalho e a convidada Mariana Gouveia


sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

de onde vem a noite.

Light in the darkness  by Charligal


Um dia só..
uma palavra só..
mais um dia somente
e nada mais a dizer.

São páginas e páginas desenhadas em letras, em simulações de sons que jamais foram ouvidos.
Páginas em branco onde as sombras da noite deixam rastros únicos e atormentados.
Foi assim em um fim de tarde.
Para além da febre da gente, que sem querer vem junto com a paixão, o céu pálido iluminou tua face, e eu não sabia como a sedução de tão luminoso olhar iria me derrubar.
Foram dias de insanidades, de loucuras, de morrer em vida em tanto respirar.
Mãos, dentes, cores, sussurros, e uma vida inteira a recomeçar.
Da calmaria, nada veio me brindar, nem a secura do mar, nem a sede de amar.

E então a tempestade chegou,mansa no início, silenciosa e maliciosa.
Junto com ela em um fim de manhã, levou as nuvens e a terra. Levou a paz e a guerra.
Deixou inundada a mão, a pele e a alma, provocando marcas inchadas,encharcadas que vão secando aos poucos ,levando o pó, as raízes e o desespero.

E o tempo passou...
Em uma noite clara ,de luar escancarado, a luz ofuscou o olhar.
A lágrima molhou o que já secara há tanto tempo.
Entontecida de uma vida inteira, inquieta e perdida, sou o mundo sem norte, um sonho sem sorte.
Talvez no esplendor do desejo, na sílaba do verso que a boca silencia, a ilusão se vai e a noite chega.
E também o fim desta página...
Mas, de onde ela vem e o que me traz?

E já é meia noite...

Ing.



Este post é parte integrante do projeto "Caderno de Notas" - Segunda Edição,sob o tema "é meia noite no fim da página"... do qual participam as autoras Ana Claudia Marques    Luciana Nepomuceno  Lunna Guedes Tatiana Kielbermann Thelma Ramalho e a convidada Mariana Gouveia


sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

a menina sem rosa.


Internet


.." Para que tu me adivinhes,
entre os ventos taciturnos,
apago meus pensamentos,
ponho vestidos noturnos,
- que amargamente inventei"..
Cecília Meireles



Uma pequena trança segura por dedos longos brinca com a memória que teima em ser esquecida.
Abro as janelas para que o vento inunde  a alma trazendo muito mais que o desejo pode compor.
Quero a vida que a lembrança da inocência me deu e, para sempre correr..
Cabelos soltos, amores puros e inundados de poesia.
São sensações, que nada mostram e se consomem no ato de viver.

Lembro da pequenina de vestido rosa – nunca gostei de rosa – bordado e lindo.
Delicada, chorava pelo rosa e pelos babados.
Logo tudo se ajeitava e os laços de fita encantavam os cabelos.
Era tudo tão leve, tão quieto, e pleno de novidades. A timidez que brilhava não escondia uma vida a desabrochar e que era pura curiosidade.
Como era bom correr em algum lugar solitário. Era momento único e muito particular que parecia eternizar o sonho desperto .
Eram letras, pincéis e teclas,palavras, cores e sustenidos.
Piano, ópera, muita música pela casa..

Como as escolhas são inevitáveis, tropecei na idade, na decisão do momento, no arrependimento que fecha o olhar, no riso solto do amar, do primeiro amor.
E o sorriso que desabrochou tão cedo me acompanhou, me acalentou, me fez longe e amigável.
Busco ainda manter a alegria do laço,o choro do rosa,e a solidão preciosa que acalentava minha alma em turbilhão, descobrindo a vida de forma tão intensa.

Aquela menininha ainda me ama e eu a alimento , sempre...

Ing


 Este post é parte integrante do projeto Caderno de Notas - Segunda Edição,sob o tema "A Menina que um dia eu fui"... do qual participam as autoras Ana Claudia Marques    Luciana Nepomuceno  Lunna Guedes Tatiana Kielbermann