sábado, 30 de novembro de 2013

o tempo do sempre

foto por Lilia  Souza

"Alice: Quanto tempo dura o eterno?
Coelho: Às vezes apenas um segundo."
(Alice no País das Maravilhas)
Lewis Carol


Há quanto tempo penso no tempo?
Há quanto tempo meu tempo me dá tempo?
Por quanto tempo terei tempo?

Estávamos quietos como céu sem vento, respiração suspensa e coração acelerado.
No meio da noite nada nos bastava, nada saciava a ânsia de que aquele tempo nunca terminasse.

Viver em um desejo estranho de urgência, que compõe a força dos atos, que voa nas asas das noites enquanto o sonho pergunta pela paixão.
Nada mais valem meus passos que se apagam na areia rapidamente.
Impulsos de amor que não acabam, desertos de jardins sem canteiros em cor.
Mais que nunca a piedade me leva à mim mesma, onde sem pressa, guio o fio que se soltou das amarras de outrora.

Acreditar que no amanhecer duvidoso de uma aurora inocente, o esquecimento me leva ao perdão, sem mesmo roçar o lençol do mais puro desespero, o sem-nome sentimento da calmaria que reflete puro descaso.
Traçar um destino meu, carregado de incertezas que se acomodam no tempo, que me faz olhar adiante em angústia tardia que a nada me vale ou consuma.

São horas inteiras, dias intermináveis, noites insones, que me invadem.
Em um caminho onde nada me sabe a infinito, onde o absurdo toma conta e cuida para que meus olhos hospedem-se nas trevas de mim, eu continuo a correr, a amar, a buscar a natureza mundana do viver, sem perguntar pelo tempo, pelo prazo de encontrar, e que tardiamente descubro que o alvorecer vai me trazer ao sempre, ao eterno, sem tempo.


Ing


Este post integra a quarta e última semana do projeto Caderno de Notas. Confiram os blogs das demais escritoras:
Ana Claudia Marques  http://pontocontos.blogspot.com.br

O quarto tema : "É sempre tarde quando acordo"..

sábado, 23 de novembro de 2013

.sempre recantos.

Internet


Entre passos e poeira, mares e ares, minha alma dança, nos recantos escuros, nas luzes intensas..
Entre seios e ombros nus, entre tantos versos, ponho-me a admirar tanta vida..

Densos  limites se abrem, se entregam, se superam..

Vejo em outro momento, naufragado em lágrima pura,
um desejo obscuro, seguro na viscosidade das mãos que teimam em mantê-lo preso...
escondido onde a pena não escreve, onde o rascunho não falará por mim.
Jogado, amordaçado, em interminável escravidão, em espaço faminto, um tênue e derradeiro grito.
Estradas me levam a tantos recantos de mim, que nem me reconheço..
Rabiscos perdidos tentando encontrar sentido, para descongelar angústias,
sem nome e sem fome, em fetiches alienados de letras errantes.. eternas.

Em qual espaço descanso?

Onde deixar meu rastro sem o absurdo do sonho que desmorona em mim..
Que me consome qual fruto maduro demais, doce, quente, prestes a perder o aroma.
Que penetra qual vento nas vestes, rodopiando o corpo entontecido..
E que vai-se na primeira manhã levando segredos indecentes, que tem dentes, e máscaras.. 
Que me abraça delicada, deixando-me a alma calada..

Ing



Este post integra a terceira semana do projeto Caderno de Notas. Confiram os blogs das demais escritoras:
Ana Claudia Marques  http://pontocontos.blogspot.com.br

O terceiro tema : "Em algum lugar de mim"..

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

.passagem.

Internet



Quando no céu sem azul
as nuvens singram
a Terra inteira,
sei do pó do ser nada..

Quando a estrada
sob meus pés
é tapete e pedras
sou rumo indefinido..

Janelas da alma
que me expõem
que se abrem
mostrando o tempo..

Já vencida e sem medo
escrevo da saudade
da presença e
da passagem..

Tento tocar a palavra
em último beijo roubado
sem amor de verso
ou lágrima ..

Que definem
o coração no peito
trancado
de pulsar esvaziado..


Ing


publicado originalmente em Retratos da Alma

sábado, 16 de novembro de 2013

.. Essa é minha carta ao mundo..





Digo que sinto e o que sinto, e do olhar pela íris que tanto me espanta, escorre uma lágrima ..

Sempre que  te vejo,  inspiro as palavras que  dançam à minha frente como pássaros,  e eu, extasiada, deixo-me  acompanhar  pelo seu voo incerto, pelas peripécias que só elas sabem fazer com meu pensar..
Tens tanta maldade, mas tanta beleza!
Sentes tanto pesar  mas nada fazes...   porque?
Sento-me à beira da calçada e observo,atenta , ao movimento dos que passam apressados sem sequer perceber que ali há vida.
E lá está você, meio onipresente...  meio louco isso!
Tocar-te... Passar  tão rápido por ti que sinto  no vento o teu perfume quente, único...
Do que preciso? Do que precisas?
O que é tão inegável em ti que te tornas distante, por vezes inerte  e  insone?
  
Um olhar estranho é sempre o que te atrai e nele me deixo levar.
Vislumbrar a luz que se esvai lentamente é uma sensação de final de dia ,perdido e insano...
E me perguntas:_ “Pois se tens tanta vida, onde a colocas?”
Nos corredores arborizados das ruas desertas, no lamento das vozes que preenchem as noites sem fim, no brilho do sol que ilumina as manhãs , no amar pleno que transborda lágrima a cada dor, a cada ausência...

Sempre que me  tocas, expiro a vontade de tanto amar, e danço, à tua frente , qual morcego sedento ,faminto, cego, que a tudo percebe, e só ele , sabe como chegar, e sobreviver...
Mundo louco mesmo, vidas jogadas em ventania, de tanto querer, e na  fragilidade de palavras  eu ando por aí, à tua busca, pelo teu olhar e por tua vontade..
 Busca do que te perdeu, do que te deixou o amargo na boca, da âncora que se soltou levando o prazer dos teus braços..

Difícil definir o que restou e o que será daqui em diante, sem a fé que regia teus caminhos, sem a beleza que vibrava no teu peito, sem o cavaleiro intrépido que a tudo e todos defendia..
 Mas, escrevo para dizer-te que creio no tamanho da esperança, no olhar sem solidão, na luz nos devaneios, e na fé..

A fé em finais felizes!....

Ing


Este compõe o segundo post da segunda semana do Projeto Caderno de Notas, do qual faço parte com imensa alegria.
O tema é .."essa é minha carta ao mundo"..
Conheçam as 6 autoras participantes: 

sábado, 9 de novembro de 2013

.Noites Brancas.



Noites Brancas  -  Ana Pinto


À  sombra de um dia inteiro
vejo um segredo sem certezas
de  olhos enevoados
de noites insones..
Carrego  no peito
a noite que nunca vem..

Fugir de mim e das sombras
que teimam em se manter
nas frestas do meu grito,
no descaso de um rabiscar
de insonia que se mantém
em lençóis eternos de alma..

Na pele, o cansaço da ternura
que escorre em suor amado..
no tumulto de um verso
que  duvida da luz
que teme iluminar
o desejo insinuado..

Inusitado,
corre o desespero da ausência
na ventania do que será,
levando a escuridão
para dentro do sonho..


Ing


Este post integra o projeto Caderno de Notas do qual tenho a honra de participar juntamente com as queridas 

O primeiro tema : "Noites Brancas"

domingo, 3 de novembro de 2013

para certo momento.





Se mover lentamente
Se arrastar em marcas
Sobreviver em si mesma..

Amargor que arde
Na boca seca
Sem letras ou sons..

Palco de sabores
De sobras enganadas
Onde o poeta magoa
E experimenta..

Sem consolo nem tempo
Sem remendo ou saudade
O roteiro é sem coerência
E resiste à tua canção..

Ing

publicado originalmente em Retratos da Alma